Sedona

31/03/2011 14:48

             Pegamos a estrada em direção a Sedona, pequena cidade em um vale rodeado de altas montanhas e escarpas avermelhadas, próxima do Grand Canyon e de nossa velha conhecida Rota 66.

A estrada continua nos mostrando a paisagem árida de filmes de faroeste, com desertos e planícies plenos de cactus e vegetação rasteira. O terreno marrom parece ficar dourado na medida que nos aproximamos do pôr-do-sol. Comum também é observar caças supersônicos realizando manobras de treinamento na região, mostrando um belo espetáculo visual de luzes traçando os céus velozmente.

Chegamos em Sedona com o céu já escuro, e acabamos nos refugiando em um hotel que parecia nos mostrar que já estávamos com saudade de casa: Sugar Loaf. O dono, um americano de meia idade, apaixonado pela cultura brasileira, nos conta que, na verdade, Sugar Loaf é também o nome de um morro bem próximo do hotel, não sendo exatamente uma homenagem ao nosso cartão-postal. Ao conhecer o monte, no dia seguinte, não notei semelhança alguma.

Pela manhã, a surpresa: toda a cidade e as montanhas que a rodeiam estavam cobertos de uma camada de neve branca e brilhante, um evento incomum na região. Tão incomum, que, no dia seguinte, a neve já havia derretido, fazendo retornar o visual tradicional colorado.

As pedras avermelhadas conferiram ao lugar um status sagrado para as civilizações anteriores. Navajos, apaches e hopis, dentre muitos outros povos, peregrinavam por centenas de quilômetros para realizar rituais de transição e purificação na região.

Hoje em dia, apesar de somente serem percebidos nas lojas de artesanatos, suas referências serviram para que milhares de adeptos de novas terapias holísticas viessem a região estudar o porquê de tanto significado espiritual.

Videntes, cartomantes, quiromantes, especialistas em vidas passadas e regressões, representantes de uma nova era se espalham em diversos estabelecimentos comerciais pelas ruas da cidade, se confundindo com lojas e restaurantes. O que todos dizem, é que, realmente, Sedona tem algo de especial, que faz recarregar as energias de quem procura suas trilhas para cada um dos muitos morros avermelhados que circulam a região.

A ardente coloração avermelhada, inclusive, é eleito por cromoterapeutas como a cor ideal para reenergizar, estimular. Fazer viver a vida intensamente. Além disso, a região conta com três lugares raros no mundo, considerados canalizadores de energia capazes de realizar mudanças rápidas no espírito: os vórtex.

O termo vórtex, utilizado sem tradução propriamente dita, em substituição ao que seria um vórtice, um turbilhão, serve para explicitar o motivo único para que servem. Representados normalmente como um redemoinho de energia, possuem a propriedade de, através desse turbilhão, penetrar direto na alma de cada um que consegue experimentar essa sensação.

Realmente, seja caminhando em uma das centenas de trilhas, desbravando de mountain bike, ou mesmo meditando no alto de um dos morros, é possível sentir que estamos diante de um lugar especial.

Três vórtex se destacam na região, cada um canalizando um tipo de energia diferente. Dois deles representam energias opostas, quase como o yin e yang do taoísmo.

O primeiro vórtex representa o lado masculino, dando forças para a capacidade de decisão. Sugerido para aqueles que necessitam de um empurrãozinho para tomar decisões importantes, ou que são influenciados facilmente por outras pessoas. É o de mais fácil acesso, estando no alto do morro onde está localizado o aeroporto.

O segundo vórtex, situado próximo à chamada Cathedral Rock, concentra energia voltada para o lado feminino, a bondade, estimulando qualidades como paciência, compreensão e compaixão. A pedra, no entanto, tampouco se assemelha ao uma catedral, apesar de considerável beleza.

O terceiro vórtex é o mais distante, próximo a um canyon. Representa um lugar de equilíbrio, onde é possível balancear toda a energia que flui por nossos corpos. É o ideal para melhorar relacionamentos, permitindo uma maior intimidade e abertura para as emoções. Este foi o único que não conhecemos.

Há ainda um quarto vórtex, próximo a Bell´s Rock (realmente em forma de sino), que parece concentrar todas as características dos outros três. Diz-se que o turbilhão de energia é tão forte que chega até a fazer com que os troncos das árvores próximas se tornem retorcidos, atraídos pela força do vórtex.

O que acontece é que esses vórtex não constituem um lugar físico propriamente dito, mas simplesmente áreas que abrangem todo um território que circularia por certos morros ou montanhas. Não há um marco, nada indicando o “X” do lugar.

Os relatos das pessoas que experimentaram essa sensação de mudança, ou renovação da energia contam que cada experiência pode ocorrer em um lugar diferente na mesma zona. Também é difícil conseguir sentir essa energia, mesmo para os mais experientes. Mesmo assim, a região continua atraindo turistas do mundo todo, principalmente por contar com o visual diferenciado de suas montanhas escarlates.

A cidade ainda conta com uma capela diferenciada. Construída sob a supervisão do renomado arquiteto Frank Lloyd Wright, a Capela da Santa Cruz destaca-se pelo lugar privilegiado. No alto de um dos morros avermelhados, as linhas retas e simples formadas por pedras retiradas da própria região parece estabelecer uma sinergia entre espírito e natureza. E um visual deslumbrante pode ser observado através de seu altar.

De Sedona partimos para o Grand Canyon, maravilha da natureza que já conhecíamos, mas que mesmo assim, continua impressionando. Paredões gigantescos de pedra, em que as cores variam de tons claros de vermelho e rosa até tons escuros de marrom e verde, escondendo por diversas vezes o Rio Colorado, que parece pequenino no fundo dos penhascos.

É mais um daqueles lugares que faz o ser humano se sentir minúsculo diante da grande mãe natureza. O mais intrigante é que o silêncio parece imperar por todo o parque. Nem o vento, nem os turistas, nem os pássaros, principalmente corvos, nada parece fazer barulho algum. Pelo menos esta é a impressão que se tem, pois, talvez, o que ocorra seja simplesmente a transmissão total de nossa atenção para o espetáculo visual do parque.

Deve haver algum sentido, porém, já que muitos destes turistas viajam quilômetros justamente para meditar próximos a beira dos precipícios, encontrando toda a paz e todo o silêncio que necessitam para atingir seu objetivo.

Indo para leste, chegamos à ponta do parque, que contrasta um deserto plano e amplo com a profundidade dos canyons, que agoram desviam para o norte, tornando-se menores. Nesta ponta, encontra-se uma torre de observação, homenagem dos antigos donos do parque às torres construídas pelos povos indígenas da região, de onde era possível observar a chegada do inimigo a milhas e milhas de distância.

Já para o lado oeste, a mais de cem quilômetros distante, já em outro parque, a novidade: o Skywalk. Um dos mais novos investimentos da região, trata-se de uma passarela transparente, que dá a impressão de nos fazer caminhar através do céu. Impossível não sentir um certo desconforto ao ver as placas translúcidas, que associam metais ultra-resistentes, acrílico e vidro, para reforçar uma estrutura capaz de agüentar ventos de até cento e sessenta quilômetros por hora e terremotos de até oito graus na escala Richter.

Apenas números, que acabam esquecidos quando se estabelecem os primeiros passos na passarela. A partir daí, somente é possível lembrar de mil e duzentos metros até o chão. Olhando para baixo, vêm à memória tantos desenhos animados da infância, mostrando coiotes ou gatos caindo de penhascos lentamente, ouvindo o famoso assobio e vendo aquela fumacinha no final.

A chegada ao parque é meio rústica, através de uma estrada de terra recentemente construída, em um território de cactos diferenciados, altos e com o que parece uma pelugem os circundando. Toda a região faz parte do território indígena Huatenai, etnia que parece estar utilizando sua reserva muito bem, financeiramente falando.

Dentro do parque, há ainda shows de músicos huatenais, que não parecem se diferenciar muito dos comanches, apaches, tukanos... O mesmo som de pequenos urros repetidos ao som de flautas e tambores, fazendo com que o som da batida acompanhe o passo do dançarino no meio da roda formada pela platéia.

A partir daí, seguimos a estrada, já percebendo que a longa viagem chegava próxima do fim e que, talvez, o terceiro vórtex que não conhecemos, o do equilíbrio, poderia nos fazer falta.

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