Puerto Escondido

19/02/2011 23:30

Saímos cedo do Lago Atitlan e conseguimos passar a fronteira cedo, após descer bastante pelas curvas das estradas guatemaltecas. De volta ao nível do mar, começamos a jornada até Puerto Escondido, pico tradicional do surfe mundial.

A estrada, apesar de próxima do oceano, permitia apenas raras vezes a visão do mar, subindo e descendo por vários morros, atravessando centenas de pequenos vilarejos, com cansativos quebra-molas. Entre dois desses morros, havia uma planície, que nos causou algumas surpresas.

Uma ventania começou, com tanta força, que era capaz de balançar o carro, nos fazendo diminuir bastante a velocidade. Paramos para dormir na pequena cidade de Arriaga, onde nos contaram que era bem normal que a velocidade dos ventos superasse os cem quilômetros por hora. E eles continuaram incessantemente por toda a noite.

Andando um pouco mais pela estrada de manhã, percebemos que ele também tem sua utilidade. Mais de oitocentas turbinas eólicas juntas. Algumas girando, funcionantes. Outras não. Mais algumas em construção. Um gigantesco parque energético, aproveitando o que a natureza nos fornece de forma barata, eficaz e sem poluição.

Chegando a Puerto Escondido, ficamos na praia de Zicatela, em um hotel cujo dono já tinha morado no Rio e falava um português perfeito. Zicatela tem uma grande faixa de areia branca e fina. Continua por alguns quilômetros até chegar a um pontal de rochas, onde passa a ser denominada praia da Punta. Um pequeno farol ainda confere um charme a mais para a praia. É esse o local onde as melhores ondas aparecem.

Apesar de estar em baixa temporada, as ondas tinham formação perfeita. Esquerdas regulares, longas e cheias que variavam de meio metro a um metro e meio. E sem crowd. Quer dizer, na verdade a água estava cheia. Lotada de pelicanos, dezenas e dezenas de aves em busca de suculentos peixes.

Ignoravam os surfistas. Voando devagar, escolhendo com calma sua presa, de repente, fechavam as asas, adquirindo uma forma de míssil, mergulhando rapidamente, muitas vezes a menos de um metro de distância das pranchas. E sempre com sucesso. Os pescadores percebem e lotam as pedras negras que cercam o lado esquerdo da praia, também conseguindo diversos peixes que serão vendidos para os restaurantes locais. Pargo, corvina, mojarra e huahuatenango, além de camaróes, lulas e mariscos são encontrados com facilidade,

Nos restaurantes e ruas da cidade, reina a tranqüilidade. Seja comendo tacos e burritos, ou ceviche de peixes e mariscos, os sons são sempre baixos e agradáveis, a conversa amigável e a Corona gelada. O interesse maior dos locais é fazer que o dia seja aproveitado ao máximo, seja surfando, pescando ou fazendo qualquer outra atividade.

De noite, conhecemos dois novos hóspedes do hotel. Daniel e Scott, americanos que vieram para o México justamente para fazer o treinamento de nativos da região, auxiliando-os na manutenção do equipamento de parte das turbinas que vimos no dia anterior. Daniel surfa também, se auto-denominando um big rider das gigantescas ondas da Califórnia.

Ele espera ansiosamente por maio, quando começa a alta temporada, com ondas superando os três metros de altura, atraindo big riders de todo o mundo. Nessa época, os locais admitem orgulhosamente que a praia se torna o terceiro melhor point de surfe do mundo.

Após dois dias de surfe, fomos conhecer a Laguna Manialpetec, que diziam ser muito bonita. Uma lagoa rodeada de mangues, com diversas espécies de aves presentes. Mas o grande atrativo encontra-se nas noites de lua nova. Com a escuridão, bactérias luminescentes fazem as águas brilhar, principalmente ao se movimentar a água, criando luz. Em noites claras, como as de lua cheia, é mais difícil ver o fenômeno.

Foi o nosso caso. Aproveitamos o dia então para conhecer as outras bonitas praias da cidade, como Puerto Angelito e Carrizalillo. Comemos um peixinho com camarão e fomos descansar para nossa próxima parada: Acapulco.

Acapulco é a praia preferida dos moradores da capital, contendo uma infinidade de bares, restaurantes, hotéis e resorts. Todavia, exatamente por isso, foi perdendo sua identidade. A praia toda foi tomada por hotéis que cobriram a bela enseada de arranha-céus, perdendo um pouco da identidade do lugar.

O grande símbolo da cidade, inclusive presente em todas as placas e sinais de trânsito, são os tradicionais mergulhadores de La Quebrada. Após escalar um paredão de pedra de trinta e quatro metros, os valentes rapazes, alguns até menores de idade, se atiram no vazio, para mergulhar elegantemente no pequeno espaço de água entre dois pedaços de rocha.

Para dificultar ainda mais, não basta apenas cair, mas se jogar, com bastante força nas pernas para não colidir com as perigosas pedras do começo do salto. Mas isso não parece assustá-los, já que muitos deles ainda executam piruetas durante o salto.

A tradição começou com pescadores locais durante a década de quarenta, sendo passada de geração a geração, com os mergulhadores formando uma espécie de clã, onde portam com muito orgulho o título de clavadistas de La Quebrada. Essencial para todos é a reza para a Virgem de Guadalupe, sua protetora, com direito a altar na beira do precipício.

Pelas ruas de Acapulco, ainda fomos achacados pela segunda vez no México. A primeira vez ocorreu alguns dias antes, próximo a Arriaga, onde um militar, ao ver que estava tudo certo com o carro, pediu na maior cara-de-pau um regalo para nos deixar seguir. Desta vez, foram mais audaciosos ainda. Ao ver que não tínhamos dinheiro, não tiveram nenhum pudor de sugerir que nos acompanhássemos a um caixa eletrônico, lembrando a atuação de bandidos em um seqüestro-relâmpago.

O mais revoltante é que o governo realmente parece estar querendo mudar o panorama da violência no país, que perde uma guerra para narcotráfico similar a que se iniciou na Colômbia nos anos oitenta. Por todas as ruas, em todos os estados, a polícia é presente, muitas vezes circulando tranqüilamente pelas ruas ostentando metralhadoras automáticas.

               Mas de que adianta toda essa força e tanta gente, se os próprios policiais são corruptos? 

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