Guatemala

17/02/2011 13:04

As estradas sinuosas do centro da Guatemala fazem pequenas distâncias se tornar cada vez maiores. Devagar e sempre, fomos nos aproximando da antiga capital com já com o cair da noite.

Est[avamos sempre de bom humor, graças ao excelente tratamento prestador por todos os guatemaltecos, seja na estrada, postos, bares, restaurantes, parques e hotéis. Chegamos em Guatemala Antigua, que nos apresentou suas estreitas ruas de paralelepípedos, rodeadas de antigas e baixas construções de arquitetura colonial.

Andando pela manhã seguinte por suas ruas, contemplei as antigas construções, incluindo a bonita praça principal, à frente do robusto Palácio de los Capitanes Generales, antiga sede do governo. A cidade foi o centro do antigo reino da Guatemala, que se estendia desde Costa Rica até Belize, sendo um dos principais pontos de influência das Índias Espanholas.

Infelizmente, no século dezoito, seguidos terremotos destruíram grande parte da cidade, forçando a construção de uma nova capital distante alguns quilômetros de distância. Apesar do tempo e dos sismos, boa parte da cidade se manteve intacta. Além disso, recentes restaurações começam a atrair turistas do mundo todo para conhecer as charmosas ruelas, com suas casas de pequenos portões que abrem para átrios enormes e floridos.

Além das ruas, igrejas e bares, a cidade ainda fica perto da base do imponente Volcan de Agua, que fornece um belo visual para os visitantes. Pelas ruas, ainda, pode-se observar ainda as obras de arte maia feitas em jade, uma das principais pedras utilizadas por eles para representar seus deuses. A pedra obsidiana foi introduzida em sua cultura mais tarde, quando muitas vezes passaram a mesclar a utilização das duas pedras na produção de seus artesanatos.

Próximo ao palácio, ainda, existe a antiga catedral, que praticamente foi destruída por seguidos terremotos e espanta por sua grandeza. Construída no século dezesseis, ela foi o marco inicial da colonização espanhola na região e ainda sustenta alguns pilares que mostram toda a sua grandeza. O governo guatemalteco tenta agora restaurá-la, com muita calma.

Almoçamos em um dos muitos deliciosos restaurantes do centro histórico e continuamos a viagem rumo ao Lago Atitlan, considerado um dos mais belos do mundo.

A estrada agora ficou mais sinuosa ainda, tornando os poucos quilômetros que separam os dois lugares ainda maiores. Subimos cada vez mais, e até atravessamos rios rasos, pois uma das pontes encontrava-se quebrada.

Depois de algumas horas de subida conseguimos chegar à cidade de Panajachel, onde conseguimos avistar o sol se pondo de forma estupenda, colocando-se logo atrás dos vulcões San Pedro, Toliman e Atitlan, em um visual único.

O lago fica localizado a mil e seiscenteos metros de altura, rodeado por uma gigantesca cadeia de montanhas de um esverdeado fosco, incluindo três vulcões que chegam a até três mil e quinhentos metros acima do nível do mar.

Fomos recebidos no hotel por Nicola, um típico guatemalteco da região, magro, moreno, de estatura baixa, vestindo a roupa tradicional, de linhas verticais de várias cores, que incluíam uma calça, camisa e uma espécie de avental negro, que mais parecia uma saia por cima da calça, envolvendo toda a cintura. Nicola estava a apenas uma semana de se aposentar e, talvez por isso, se mostrava extremamente solícito, simpático e feliz com nossa presença, nos facilitando durante toda nossa estadia.

As cores de sua roupa não são vibrantes, predominando tons de azul, roxo e lilás, com alguns detalhes de verde-escuro e vermelho, e estão presentes nas roupas de todos na região, principalmente entre as mulheres. Dá pra notar inclusive que representam suas cidades de origem, pois em cada povoado, os tecidos pareciam se repetir pelas ruas, para representar outros tons no próximo vilarejo.

Bem, no dia seguinte, fizemos um passeio de barco, conhecendo os povoados de San Pedro, Santiago e San Antonio, tendo diferentes visões do gigantesco lago. De cada ponto, os três parecem se enfileirar para depois se afastar, como numa dança. Em certos pontos, é possível ver ainda outros vulcões a alguns quilômetros de distância, um deles ainda ativo e soltando fumaça.

As mulheres, com seus trajes típicos, procuram vender a todo custo os tecidos locais, de forma até insistente e agressiva, contrastando com o agradável tratamento prestado por todo o restante do território da Guatemala. Na cidade de Santiago, essa insistência das vendedoras de tecido locais acabou ofuscando o que seria o ponto alto do passeio. Enquanto mulheres nos ofereciam os tecidos, taxistas repetiam exaustivamente uma palavra que não compreendíamos: moximon.

Moximon é, aparentemente, um ídolo venerado pelos nativos, que aos poucos começa a virar atração turística. Trata-se de um pequeno boneco de madeira, sem pernas, de cabeça de cerâmica, coberto com os tecidos regionais, fumando um charuto aceso e colocado em um altar que muda de casa a cada ano.

A ele são realizadas oferendas como rum, moedas, ou até mesmo coca-cola (dizem que sua efervência simboliza uma subida mais rápida da mensagem aos deuses...) em troca de ajudas com suas vidas. A mudança de seu altar costumava ser secreta, somente com o conhecimento dos membros da seita, mas com o crescente sucesso turístico, oportunamente começam a proliferar altares na cidade... As oferendas e pedidos parecem misturar algo da antiga cultura maia com cultos católicos latino-americanos a São Simão, padroeiro de várias cidades da região (dizem que o nome moximon evolui com o tempo a partir de San Simon...).

Continuando a viagem, passando por San Antonio e depois retornando no fim da tarde para Panajachel, curtindo o visual do lago, que agora começava a se enevoar. As gélidas águas verdes e cristalinas não convidam tanto para entrar enquanto o frio e o ar rarefeito tampouco estimulam a muitas atividades. Mas o visual por si só já tira o fôlego. A pesca é boa, mas o sabor dos peixes não é tão bom quanto os que comemos na Isla de Flores, no lago Petén Itza. Na verdade, mãos humanas acabaram causando um desastre ecológico na região.

A introdução de achigãs, espécies de robalos naturais da Norte-América, na década de cinqüenta, acabaram por reduzir em mais da metade a quantidade e variedade de peixes do lago. Além disso, contribuiu para a extinção do mergulhão-de-atitlan, ave que tinha como alimentação base crustáceos e moluscos que sumiram após essa introdução.

               O que deveria ser um estímulo ao turismo de pesca esportiva acabou se tornando um desastre. E um motivo para não pedir peixe no restaurante. Talvez os nativos peçam a moximon uma pesca melhor nos dias que virão.   

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