Vancouver

01/06/2011 15:23

Resolvemos retornar para Vancouver através de um caminho alternativo, que atravessava montanhas, rios e lagos, muito frequentados na região, tanto durante a estação de esportes de inverno, quanto nas melhores épocas de pesca, rafting, montanhismo e trekking.

O cenário continuava parecido com a Gold Rush Trail, nosso trajeto durante a ida ao Alaska. Todavia, após almoçarmos na bucólica cidade de Lillooet, as montanhas começaram a parecer maiores e mais próximas, como se a estrada descesse através de um cânion, onde não conseguíamos achar o rio que normalmente está em seu leito.

Logo após a cidade, surpreendemo-nos com um pequeno lago, estreito, surgido após uma represa próxima. O lago Seton, apesar do tamanho, impressionava. Sua coloração verde-esmeralda era de um brilho raro que acabou fazendo com que parássemos o carro para admirá-lo. Peixes pulavam constantemente, próximos a um pequeno cais. Ao fundo, duas montanhas regulares desciam suas escarpas harmoniosamente em direção à água que, com seu reflexo, devolvia a beleza de suas paredes da mesma forma, dando a impressão que a natureza desenhava diante de nós uma gigantesca ampulheta formada por pedras, sol e água.

Seguimos a estrada percebendo que a coloração do cenário variava de um verde musgo para um marrom fosco, permeado por pinheiros que se tornavam cada vez mais frequentes na medida em que nos aproximávamos de Whistler, cidade-sede dos últimos Jogos Olímpicos de Inverno. Lá, o branco voltaria a reinar, principalmente após surgir uma nevasca justamente nesse trecho, coisa que não chegou a nos abalar.

Não nos abalamos mesmo depois de nosso pneu furar, ainda quando a neve caía, já bem timidamente. Trocamos tudo rapidamente e conseguimos chegar a Vancouver antes mesmo do fim do anoitecer. Voltamos para o mesmo hotel onde nos hospedamos na primeira vez.

De noite, a surpresa. No primeiro andar do hotel, havia um pub, que era ponto de encontro de torcedores dos Canucks, time de hóquei local que liderava o campeonato norte-americano. Além de boa cerveja e boa comida, ainda contava com mesas de sinuca, garantindo diversão mesmo para quem não era fã de hóquei.

Mas no dia em que chegamos, tudo se transformou. O bar ainda era o mesmo, mas a frequência tinha mudado completamente. Dezenas de pessoas de origem oriental, chineses, coreanos se alternavam em um palco improvisado. Era dia de karaokê, com direito a legenda, com ideogramas mostrando a letra de cada música. E todos que não cantavam estavam dançando.

Dançavam também alguns poucos homens ocidentais mais velhos, já de cabelo grisalho, acompanhados de jovens moças orientais que aparentavam ter menos disposição para a pista de dança do que seus parceiros. E ainda era curioso observar que entre cada música, durante o silêncio de menos de um minuto, a pista se esvaziava completamente, para depois ser preenchida de novo por um povo que, aparentemente, não pode esperar a próxima música de pé.

E assim, após quase uma hora, enquanto ainda assimilávamos o fato de que aquele bar era dotado de uma incrível capacidade de metamorfose, saímos para jantar em outro lugar, decidindo o que fazer nos próximos dias. Percebemos que Vancouver é realmente uma cidade cosmopolita, povoada por imigrantes de tantas origens diferentes quanto observamos no Panamá.

 No dia seguinte, conhecemos o Stanley Park, lindo parque que ocupa uma península no noroeste da cidade. Morros, bosques, praias, estátuas e totens, um pouco de tudo que a região da Colúmbia Britânica tem de melhor aparece por ali. Lugar ideal para caminhadas, corridas e passeios de bicicleta, ponto de encontro dos cidadãos de Vancouver que gostam de atividades ao ar livre.

A estrada que corta o parque termina na Lions Bridge, uma bela ponte pênsil pintada de verde, que é um dos símbolos da cidade. Na sua entrada, encontram-se duas estátuas de leões de bronze que, de acordo com o humor dos cidadãos, vestem desde cachecóis de um time de futebol a gorros ou casacos de hóquei, dependendo do evento mais importante do dia. Um visual diferente a cada dia.

A partir da ponte, chega-se a North Vancouver, ponto de partida para as diversas estações de esqui da região. Dentre elas, se destaca a Grouse Mountain. Simbolizada por uma gigantesca turbina eólica, que se encontra bem no ponto mais alto do parque, Grouse Mountain proporciona um visual de tirar o fôlego, podendo observar toda a cidade de Vancouver, incluindo a Lions Bridge e o porto.

Próximo de Grouse Mountain, ainda está o parque Capilano, com sua ponte suspensa de dar um frio na espinha, enquanto se caminha por seus trêmulos cento e trinta metros, que se encontram a setenta metros do chão.

Terminamos o dia jantando no alto da torre Top of Vancouver, mais um ponto de onde se pode observar toda a cidade, saboreando diversos tipos de frutos do mar, comuns de toda a região. Celebramos bem, pois em breve estaríamos nos despedindo.

Após um último dia de compras e despedidas. Jone retornou então para o Brasil, enquanto fiquei um pouco mais esperando o retorno de meu grande amigo Leo, morador de Vancouver e com quem eu passaria meus últimos dias antes de voltar pra casa.

Enquanto esperava, resolvi ir conhecer Victoria charmosa cidade que se encontra na Ilha de Vancouver, distante cerca de duas horas de barco da cidade de Vancouver. É realmente confuso o fato da cidade de Vancouver não se encontrar na ilha de Vancouver. A confusão é tão grande que é bem comum que turistas (como eu) chamem a gigantesca ilha onde se encontra a cidade de Victoria de Ilha Victoria.

Bem, na Ilha de Vancouver deu pra conhecer algumas outras coisas bem legais além da charmosa cidade. Mount Washington, por exemplo, é uma tranquila e pequena estação de esqui, onde pude deslizar por alguns dias. Mesmo com a visibilidade prejudicada por nevascas constantes, a estação não fechava e contava com boa iluminação, além de bons restaurantes, onde me aquecia após o esforço durante o dia.

Enquanto descia ao sul em direção a Victoria, ainda pude conhecer a exótica cidade de Duncan, conhecida como cidade dos totens, que se espalhavam pelas ruas da cidade, com várias formas e tamanhos, representando os mais diversos animais, e que eram produzidos pelas várias etnias diferentes dos povos do norte.

Finalmente, chegando a Victoria, pude conhecer a arquitetura colonial britânica da cidade, bem diferente do que tenho visto pelas outras cidades canadenses. Desde o antigo parlamento, até as mansões próximas da costa, existindo até mesmo um castelo, construído por um imigrante escocês que sempre tinha sonhado em ter o próprio castelo.

Mas o destaque da cidade são mesmo os jardins. Se pelas ruas da cidade já era possível ver flores e árvores rosadas, que mostravam que a primavera realmente tinha chegado, era nos jardins botânicos que a natureza se mostrava ainda mais bela. A impressão é de estar caminhando pelo sonho de Alice, no país das maravilhas. Flores das mais diversas formas, cores e tamanhos, formando figuras irregulares, mas harmoniosas, realmente como num sonho...

E assim sonhando já com a hora de chegar em casa, voltei para Vancouver, para o aeroporto, buscar o Leo, que, gentilmente, me cederia o sofá pelos próximos dias, até que fosse possível conseguir embarcar meu carro de volta para o Brasil.

Leo parecia não acreditar que realmente eu tinha chegado. E após alguns meses no Brasil, tinha a sensação de que não tinha voltado para o Canadá ainda. Continuava falando português, conversava com um velho amigo de infância. E a minha empolgação era grande também, pois seria simplesmente a última etapa de uma viagem que tinha começado cinco meses antes, trinta e cinco mil quilômetros atrás.

Leo me apresentou seus companheiros de casa, especialmente seu companheiro de trabalho Stefan, com quem troca várias experiências profissionais, além de uma boa amizade. Durante uma noite, acompanhado de seu pai e de alguns amigos, Stefan me proporcionou um grande show de blues, em uma bela jam session regada a muita cerveja e alegria.

Nos outros dias, principalmente quando não estávamos resolvendo coisas relacionadas à burocracia de colocar meu carro em um navio para o Brasil, Leo e eu nos divertíamos da maneira que era possível. Esquiamos juntos duas vezes na Grouse Mountain. Ele com seu snowboard e eu à moda antiga, com o bom e velho esqui.

Leo ainda me mostrou o Lynn Canyon, parque parecido com o da ponte Capilano, mas que conta com pequeno um pequeno lago, o Rice Lake, que de um verde clarinho, parece surgir de repente por entre as rochas, sendo um bom lugar para saltar e nadar. Pena que na primavera ainda está frio demais para isso...

Pena também que não foi desta vez ainda que consegui conhecer Mateo, filho de Leo, que, por enquanto, só tive o prazer de conhecer pelas muitas fotos e vídeos que meu grande amigo nos mostra quando vem ao Brasil... O tempo acabava. Já era hora de voltar.

Na memória ficam agora as estradas que passei. Os amigos que reencontrei. As coisas que aprendi, tanto com as novas culturas que conheci, quanto com tudo aquilo de novo que percebi nascer e crescer dentro de mim. A confiar nos meus instintos. Aprendi, principalmente, a respeitar a estrada da vida. Reconhecer que, apesar de alguns trechos mais esburacados, o importante é seguir em frente, sem nunca perder a direção.

E sem pressa nenhuma de chegar ao destino final, sempre aproveitando a paisagem...

https://doutoresdaselva.spaces.live.com/default.aspx

© 2010 Todos os direitos reservados.

Crie um site grátisWebnode