Texas

26/02/2011 21:46

              Bem, os noticiários brasileiros transmitem com freqüência a situação que existe no norte do México. Mudei meu roteiro algumas vezes por conta disso. E realmente não esperava que Monterrey, que era a mais tranqüila das três grandes cidades da fronteira, piorasse tão rápido assim.

O objetivo era sair da Cidade do México em direção a San Antonio, Texas. O caminho mais rápido, calculado tanto por GPS, quanto por Google Maps ou qualquer outro mapa seria através da carretera interestadual, que passava por San Luis Potosí, ao largo de Monterrey e atravessando a fronteira por Nuevo Laredo. Mas alguma coisa me dizia que eu deveria ir pela outra estrada.

Justamente na manhã em que saímos, um programa na televisão noticiou a morte de um agente federal americano na cidade de San Luis Potosí. Foi a senha de que o outro caminho realmente era o mais indicado. Mas a saída ainda era prevista por Nuevo Laredo.

Dormimos em uma pequena cidade chamada Zimapán, onde os restaurantes fechavam inexplicavelmente às sete horas da noite. Apesar disso, encontramos um lugar que oferecia um cachorro-quente decente chamado D´Marco. E acordamos cedo para pegar a estrada, sempre ouvindo os mesmos conselhos.

Não pare em lugares vazios. Não dirija de noite. Evite Monterrey. A melhor opção parecia ser dormir desta vez em Ciudad Victoria, alguns quilômetros antes de Monterrey. Já no hotel, os conselhos pareciam indicar que a melhor saída – e mais próxima – seria pela pequenina cidade de Reynosa.

Detalhe: em nenhum momento a presença policial nas ruas diminuiu. Inclusive, em nosso hotel ficaram hospedados mais de dez policiais federais, que haviam trocado de hospedagem por falta de segurança no hotel anterior.

Em todos os bares, restaurantes, hotéis, postos de gasolina, lojas de conveniência, o semblante de todos mostrava a vergonha de ser mexicano naquela parte do país. Constantes eram os comentários sobre apenas estar temporariamente ali, ou que a família mora nos Estados Unidos ou em outra região mexicana e que, em breve, se juntariam a eles.

Em nenhum momento procuravam amenizar a situação de que sim, o norte do México vive praticamente sob um governo paralelo. Apesar da excelente estrutura de serviços e estradas da região, a sensação era de que a qualquer momento algo poderia acontecer. Preocupados somente em sair, quase não percebemos que aquele cenário de pradarias secas de cactus tinha sido substituído por canaviais e laranjais.

Seguindo principalmente a intuição – após Belize, passei a dar muito mais valor a ela – acordamos cedo e seguimos para Reynosa, tão apressados o quanto poderíamos. E na pressa, faltando cinco quilômetros para a fronteira, um carro da polícia federal nos parou.

Foi a propina mais bem paga e tranqüila de toda a viagem. Eles entendiam perfeitamente o porquê de estarmos tão apressados, foram extremamente cordiais e nem cobraram tanto, até porque nossos pesos mexicanos já estavam acabando mesmo. E com essa, México ultrapassa Venezuela e Panamá no ranking de subornos a policiais corruptos.

Na alfândega, muitas eram as preocupações também. A aceitação de vistos e passaportes. A permissão de entrada de um carro que somente conta quilômetros em um sistema rodoviário que só utiliza milhas. A quantidade de remédios que meu pai trazia – suficiente para sua utilização durante a viagem, mas que já tinha causado uma situação incômoda na aduana panamenha. E além disso, não havia o carimbo de saída do México.

Pois é, ao sair do México, é cobrado um pedágio, mas não encontramos um posto de aduana mexicano para efetuar nossa saída. Estranhamos, mas continuamos pela ponte para chegar em um gigantesco engarrafamento que antecedia a alfândega. Concluímos que se o passaporte fosse aceito mesmo assim, não valeria a pena retornar.

De fato, o american way of life politicamente correto foi perfeito para nós. Os trâmites foram realizados rapidamente. A fiscalização do carro foi completa, mas rápida. Somente estranharam o fato de que queríamos estar presentes ao lado da inspeção. Após tantas fronteiras de policiais corruptos, ainda tínhamos o cacoete de querer estar ao lado para ter certeza de que nada seria plantado.

Deu tudo certo. E em apenas algumas horas depois, nos encontramos na cidade de San Antonio, para saborear uma gelada cerveja pela charmosa Riverwalk, centro turístico da cidade. Brindamos ao fim do estresse e preocupação que nos acompanhava desde a Venezuela, em que cada barreira e policial era uma preocupação. E ao fim de dois dias tensos em que, graças a deus, praticamente nada aconteceu.

Agora estávamos na República do Texas, um estado que, com sua história de revoluções e posicões extremamente conservadoras, representa uma cultura própria e diferenciada dentro dos Estados Unidos. Já foi inclusive estado independente, além de ter sido o grande líder dos escravagistas durante a Guerra Civil Americana. Era o estado por onde se iniciavam as antigas aventuras pelo Velho Oeste e, aparentemente, o comportamento parece não ter mudado muito. A única diferença agora é que os cavalos foram substituídos por grandes caminhonetes que começaram a fazer meu carrinho se sentir pequeno.

Agora, o receio de ser assaltado diminuiu. O medo de policiais exigindo propinas praticamente se tornou inexistente. O único cuidado agora é que a velocidade teria de ser melhor controlada, já que a fiscalização é mais rígida. Pelo menos os limites de velocidade são um pouco maiores também.

Retas imensas, com carros e caminhões praticamente na mesma velocidade, sendo raras as ultrapassagens, tornando a direção até um pouco monótona. O cenário agora era de pastos gigantescos, alternados com plantações de trigo.

De San Antonio, partimos para Dallas, que representa a essência do que é uma típica cidade do interior americano. Mas sem nenhum atrativo a mais. Na verdade, bem mais atraente é a sua cidade-irmã, Fort Worth. Por lá, é possível visitar uma pequena cidade do Velho Oeste preservada, podendo ver até mesmo o gado sendo tocado por suas ruas. Em um de seus restaurantes, saboreamos o melhor filé de toda a viagem, sem molho e sem tempero, somente deixado no seu melhor ponto suculento.

E continuamos viagem até o estado de Oklahoma, onde aconteceria mais um reencontro.

 

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