Rota 66

01/03/2011 14:33

A partir de Oklahoma iniciamos nossa jornada pela Rota 66, talvez uma das estradas mais famosas do mundo.

Chegamos na pequena Elk City, tomamos a direção para Clinton, rumo ao museu da Rota 66, onde esperávamos entender melhor o porquê da fama desta estrada, que já inspirou músicas, filmes, obras de arte e, até mesmo, restaurantes do Rio de Janeiro.

A Main Street (rua principal, nome de rua mais comum das cidades americanas) da América, como é conhecida, foi pioneira. Primeira estrada de asfalto que ligava Chicago a Los Angeles, foi ela quem iniciou a expressão Costa-a-Costa, que estimulou aventureiros do mundo todo a pegar a estrada pelo interior americano.

Através dela, se iniciou a interiorização em massa dos Estados Unidos, que agora tinham um caminho decente para procurar uma vida melhor do outro lado do continente. Mesmo assim, a viagem era londa e árdua, com os recentes automóveis negros de Henry Ford ainda não tão resistentes para viagens tão longas assim.

Após a segunda guerra mundial, inspirados pelas autobahns alemãs, os americanos iniciaram um novo modelo, de pistas duplas, triplas, acostamentos largos, curvas suaves, que permitiam velocidades cada vez maiores. Estradas de mão-dupla como a Rota 66 acabaram deixadas em segundo plano.

E, por um desses motivos inexplicáveis do comportamento urbano, foi a rota foi se tornando aos poucos em uma estrada cult. Cada vez mais e mais viajantes optavam realizar suas viagem pela estrada rústica, ao invés do conforto das interestaduais. Afinal, durante mais de trinta anos esse foi o único elo rodoviário entre os dois cantos do país.

Músicas como a de Nat King Cole (regravada também por Chuck Berry e Rolling Stones, entre outros), além de filmes e seriados, só fizeram subir a fama. E assim, mesmo após o seu fim, em meados dos anos oitenta, ainda existem milhares de turistas que por todos os anos procuram refazer o seu trajeto, através da interestadual I-40. Moderna, ampla e segura. Com alguns pequenos trechos históricos preservados com a boa e velha mão-dupla.

E assim iniciamos um trecho da rota, através dos campos de algodão de Oklahoma, dos gigantescos pastos do Texas e das planícies áridas do Novo México. Mas a empolgação com o clima cowboy de Fort Worth nos fez desviar um pouco nosso caminho.

A partir de Albuquerque nos voltamos mais para o sul, rumo a histórica cidade de Tombstone, quase na fronteira com o México. Lá foi realizada uma das mais célebres batalhas do Velho Oeste: o tiroteio de O.K. Corral.

Na cidade onde a família de Wyatt Earp enfrentou os clãs dos McLaury e dos Clanton, o clima de faroeste penetra a sua alma. Quem assisitiu a pelo um dos milhares de filmes do gênero, entra imediatamente no clima.

Chegamos à noite, e rapidamente encontramos um lugar para dormir. Mas foi ao sair para jantar que nos surpreendemos. Bem, a comida foi o que existia disponível, um simples hambúrguer de procedência duvidosa. Mas foi tomando uma cerveja no histórico Crystal Palace que observamos um fato curioso.

A cidade ainda estava vazia na quinta-feira, mas todos os atores que reencenam o famoso duelo ainda estavam a caráter. E relaxando no bar, cantando músicas country, jogando sinuca e dançando. O jeito e a postura de cada um, especialmente do ator que representa Doc Holliday, nos fez perceber algo: após o expediente, após baixar os panos e apagar as luzes, eles continuam exatamente iguais.

Sem as frases de efeito, sem as alcunhas dos grandes heróis do passado. Mas ainda assim, com a mesma postura, mesmo sotaque. Como se fosse impossível se desfazer do personagem. As frases de efeito, como “temos whisky bom e água tolerável”, são espalhadas por toda a cidade, “valente demais para morrer“. Ainda pudemos provar a sarsaparrilla, esverdeada bebida típica do velho oeste, que mistura um gosto adocicado de xarope mentolado, não permitindo tomar mais do que dois goles da bebida exótica.
               No dia seguinte, saímos pelas ruas, vendo carruagens e diligências, homens de botas e chapéus a caráter, mulheres de espartilho e vestidos longos. A reencenação do duelo é feita praticamente no mesmo lugar onde foi o ocorrido, contando como surgiu a rivalidade entre vaqueiros e pistoleiros na pequena cidade que surgiu graças à mineração de prata.

É possível ainda se sentir como um mineiro, entrando na velha Good Enough Mine, descendo algumas dezenas de metros para o subterrâneo, imaginando como viviam os mineiros naquelas condições limitadas de escuridão e confinamento. Após uns dez minutos, dá até para sentir a sílica começando a entrar nos pulmões, num lento processo que acabaria com a saúde dos garimpeiros muitos anos depois.

Curiosa também é a quantidade de motoqueiros ostentando suas belas e imponentes Harley Davisons pelas ruas da cidade, mostrando que se identificam intimamente com a cultura da cidade. E realmente, é fácil entrar no clima e se sentir como um fora-da-lei, querendo abandonar o carro e cavalgar pelas pradarias.

              Mas, voltando para a realidade, retomamos a estrada de novo, para um destino, digamos, energético no Arizona. 

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